Verde sonho para os portugueses em Wimbledon
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. Henrique Rocha e Jaime Faria pretendem se juntar a Borges no quadro principal. |
Faria e Rocha lançam o dado na relva
de Wimbledon!
O ritual repete-se todos os anos: os
campos sagrados do All England Club chamam, e os sonhos respondem. Este ano,
Portugal tem mais do que esperança — tem nomes, ‘ranking’ e ambição na bagagem.
Jaime Faria e Henrique Rocha já
conhecem o caminho que precisam de trilhar rumo à fase principal de Wimbledon,
o mais clássico dos torneios de ténis.
O primeiro adversário será o húngaro
Zsombor Piros (161.º), velho conhecido que o Canhão do Jamor derrotou há menos
de um ano, no Porto Open. Se repetir a proeza, o português poderá medir forças
com o argentino Marco Trungelliti (154.º) ou o russo Alibek Kachmazov (173.º) —
ambos experientes, ambos perigosos.
Faria carrega consigo não somente o
talento afinado, mas também uma vontade madura. A sua ascensão no circuito tem
sido marcada por uma consistência rara em jovens da sua idade. Em terra batida
ou em piso duro, tem demonstrado capacidade de adaptação. Agora, é tempo de
testar o seu jogo na superfície que mais desafia o instinto: a relva. É aqui
que o tempo parece correr de forma diferente, onde as trocas são mais rápidas e
os erros mais caros. Mas também é onde a audácia se paga com glória.
Rocha: a relva volta a chamar
Mais abaixo no ‘ranking’, mas não no
espírito, Henrique Rocha (158.º) volta a pisar o palco onde se estreou há um
ano. Na altura, venceu precisamente Jaime Faria na primeira ronda. Agora, com
mais rodagem e ‘ranking’ reforçado, quer ir mais longe.
O primeiro obstáculo é o boliviano
Muriel Dellien (223.º), sem confrontos prévios. Em caso de vitória, o portuense
poderá encontrar Tomas Barrios Vera (112.º) ou James Story (561.º), dois
extremos no ‘ranking’, mas ambos com algo a provar.
Rocha chega com um estilo de jogo
mais consolidado, com um serviço afiado e um jogo de rede cada vez mais sólido.
Tem aprendido a escutar a relva, a entender o seu silêncio e a responder com a
raquete. A experiência acumulada nas últimas temporadas pode ser decisiva. Para
ele, Wimbledon já não é um desconhecido, mas sim um velho conhecido que aguarda
uma nova história para ser contada.
Há uma aura particular nos jogadores
que se atrevem a sonhar na relva. Eles sabem que, ali, a margem de erro é
curta, e que cada ponto é uma obra de precisão. Mas também sabem que, se o
sonho for nítido o suficiente, a relva pode tornar-se estrada.
Borges e Cabral já lá estão!
Enquanto Faria e Rocha
procuram um lugar entre os gigantes, Nuno Borges já tem presença
confirmada no quadro principal de singulares. A sua constância e inteligência
tática foram determinantes para garantir esta entrada direta. Borges tem
crescido silenciosamente, sem alarde, mas com eficácia, e volta a pisar os
campos verdes com a serenidade de quem conhece bem o caminho.
Nos pares, Francisco Cabral
também levará a bandeira portuguesa ao templo sagrado da relva. A sua presença
representa mais do que uma participação — é a continuidade de uma geração que
não se resigna a ser figurante no grande palco do ténis mundial.
Aos poucos, o ténis português vai
deixando de ser exceção nos grandes palcos para se tornar presença habitual. Há
uma semente que germina e que agora floresce em Wimbledon, com nomes que não
temem a tradição, mas que querem inscrever-se nela.
O céu é o limite — mas a relva é o chão
Wimbledon não é só um torneio. É um
palco onde o ténis encontra a tradição, e onde cada ponto tem peso de história.
Para os portugueses, esta fase é mais do que uma qualificação: é uma
oportunidade de se tornarem parte do mito.
Nos corredores do All England Club,
respira-se o passado. Ecoam nomes imortais, sussurram memórias gravadas em
branco. E, entre esses ecos, há sempre espaço para novas vozes. Faria e
Rocha não chegam como favoritos, mas chegam com alma. Borges e Cabral, por
sua vez, vêm para confirmar que o trabalho compensa, que o talento português
tem lugar entre os melhores.
A relva de Wimbledon não perdoa
hesitações, mas também recompensa os ousados. A cada pancada, a cada deslize
controlado, a cada passo contido sobre o tapete verde, constrói-se uma
narrativa. E, com um pouco de sorte e muito engenho, ela pode ser portuguesa.
Porque Wimbledon é feito de tradição,
mas também de renovação. E quem pisa esses campos com respeito e coragem, mesmo
vindo de longe, pode muito bem-fazer história.
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