Rumo a Hobart o destino da Seleção Nacional de ténis feminino
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: ITF. A comitiva lusa que fez história e que deverá viajar para a Austrália. |
Navegar em direção da descoberta e da conquista
A seleção nacional feminina prepara as malas,
as raquetes e os sonhos para um dos desafios mais longos — e simbólicos — da
sua história. Em novembro, Portugal vai até Hobart, capital da longínqua
ilha da Tasmânia, na Austrália, para disputar o play-off de acesso à fase
final da Billie Jean King Cup. Serão três dias, entre 14 e 16 de novembro,
em que o ténis se fundirá com a poesia da viagem, da superação e da descoberta.
Como em toda a grande travessia, não basta
força. É preciso estratégia, paciência e um olhar atento para o horizonte. E é
isso que a equipa das quinas tentará levar para o Domain Tennis Centre,
onde enfrentará Austrália e Brasil num formato inovador que
promete emoções e reviravoltas.
Austrália: muralha dourada no fim do mundo
Jogar contra a Austrália, em Hobart, será
como enfrentar o calor incandescente do deserto em pleno mar do sul. As
australianas são anfitriãs e favoritas, uma verdadeira muralha dourada que
defende o seu território com jogadoras de topo mundial. Daria Kasatkina
(16.ª do ‘ranking’ WTA) lidera um conjunto temível, que ainda conta
com Ajla Tomljanovic (66.ª), Kimberly Birrell (79.ª) e a jovem
promessa Maya Joint (52.ª). No campo dos pares, Ellen Perez e Storm Hunter
completam um grupo sólido e versátil.
Jogar na Austrália é, para qualquer equipa visitante, uma prova de resistência física e emocional. O fuso horário, o ambiente, o piso rápido ao ar livre, e até a melodia do inglês com sotaque oceânico — tudo impõe uma mudança de ritmo. Portugal terá de encontrar a sua própria cadência e transformar a desvantagem em motivação.
Brasil: espelho de língua e paixão
O Brasil, segundo adversário do
grupo, traz outro tipo de desafio: intensidade emocional. Com a poderosa Beatriz
Haddad Maia (21.ª WTA) à frente, a seleção canarinha alia força a
criatividade. A equipa conta ainda com Laura Pigossi, Carolina
Alves, Gabriela Cé, e um trio de especialistas em pares — Luísa
Stefani (26.ª), Ingrid Gamarra Martins (81.ª) e a própria
Haddad Maia (41.ª em pares). Um conjunto versátil, experiente e com um
histórico recente de presenças nos grandes palcos.
Frente a estas gigantes sul-americanas,
Portugal terá de mostrar mais do que talento: será necessário jogar com alma,
paciência e ousadia — como quem dança um fado a meio de um carnaval.
Portugal: novo ciclo, mesma vontade
Do lado português, sopra o vento da
renovação. Matilde Jorge, com apenas 21 anos, é a nova número um
nacional (251.ª WTA), ultrapassando a irmã Francisca Jorge (259.ª) pela
primeira vez. Ambas são também presença habitual no top 110 de pares — um feito
assinalável para jogadoras tão jovens. Juntam-se-lhes Angelina
Voloshchuk (837.ª) e Inês Murta (906.ª), formando um grupo
coeso, determinado e cada vez mais maduro.
A última grande campanha de Portugal na então
Fed Cup foi em 1991 — há 34 anos. Com nomes
históricos como Sofia Prazeres, Tânia Couto e Joana
Pedroso, a seleção venceu as Bahamas (3-0) e Taiwan
(2-1) antes de cair frente à Áustria no Grupo
Mundial. Desde então, muito mudou: os formatos, os adversários, o contexto
competitivo. Mas o espírito — esse — continua intacto.
Um novo mapa, uma nova odisseia
O novo formato da Billie Jean King Cup
2025 divide 21 equipas em sete grupos de três, cada um com
uma anfitriã. Os encontros serão jogados numa única cidade, durante três dias,
em sistema de todos contra todos. Apenas os vencedores seguirão
para os Qualifiers de 2026, onde regressa o sistema tradicional de
eliminatórias home-away.
Portugal, ao ser inserido num grupo com duas potências, poderia sentir-se diminuído. Mas quem conhece a história do ténis português sabe que o improvável é terreno fértil para grandes feitos. Hobart não será uma escala: será uma bússola. Um lugar onde tudo pode começar de novo.
Travessia no tempo e no espaço
Viajar até à Austrália é dar uma volta quase
completa ao globo. É atravessar fusos, estações, continentes — e sair do outro
lado, de cabeça erguida. Mas, mais do que a distância física, será a distância
emocional que as jogadoras portuguesas terão de percorrer: da dúvida à coragem,
do respeito à ousadia, da esperança à ação.
Em novembro, a bandeira portuguesa será
hasteada num dos pontos mais longínquos do planeta. E mesmo que o favoritismo
pertença a outros, a alma — essa — é só nossa.
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