Olga Chramko campeã da Europa: arte, paciência e um ouro português em Novi Sad

                                                                     Por António Vieira Pacheco

Olga a escutar os conselhos de Vítor Gouveia, conselheiro e colega de equipa na Ponta do Pargo.
Créditos: Direitos Reservados. A nova campeã europeia de WS45. É Olga Chramko.

A atleta portuguesa conquistou o título europeu em veteranas +45 com um desempenho tático sublime. Um jogo entre defesas, jogado como um bailado silencioso, com cortes, variações e inteligência.

No pavilhão repleto de histórias em Novi Sad, Sérvia, onde decorreu o Campeonato da Europa de Veteranos 2025, Olga Chramko fez história ao conquistar o título de campeã da Europa na categoria +45 anos. Numa final jogada com a delicadeza de quem corta tecido fino, a atleta portuguesa venceu com uma autoridade serena, dominando o jogo com paciência, variação e uma leitura de jogo fora do comum.

A final não foi somente um jogo — foi um duelo filosófico entre duas defesas clássicas. De um lado, Chramko, da Madeira, e representante da ADC Ponta do Pargo. Do outro, a russa Diana Svetlana Povovtseva, a não representar o país, mas a competir pela bandeira de atletas individuais neutros, uma jogadora sólida, técnica, que defendia como quem recita uma fórmula matemática. Mas a portuguesa respondeu com música.

Final desenhada com bisturi

Os parciais dizem muito: 11–3, 11–4, 11–5. A portuguesa não somente venceu — desarmou uma especialista, ponto a ponto, corte a corte, como quem desmonta um relógio com luvas de veludo. Jogou perto da mesa, sem correr riscos desnecessários, reduzindo o campo ao essencial. Como um cirurgião, escolhia o momento certo para atacar, alternando bolas sem efeito com cortes venenosos. E quando menos se esperava, acelerava.

Ao longo do torneio, a portuguesa de ascendência russa, construiu o seu percurso sem ceder um único ‘set’. Foi a crescer ronda após ronda, até alcançar o jogo decisivo com confiança e estratégia apuradas.

Ponto a ponto, como quem borda

A final individual foi um monólogo de domínio tático. Desde o início, Chramko impôs o seu ritmo: bolas rasas, variações subtis, mudanças de altura e rotação. Svetlana viu-se presa numa teia invisível, sem espaço para a iniciativa.

Ela não se limitou a devolver bolas — conduziu cada ponto como quem conduz uma peça musical, entre o silêncio e a explosão. E no momento certo, atacava. No último ‘set’, ousou ainda mais: arriscou alguns ataques rápidos que surpreenderam a adversária e quebraram definitivamente a resistência.

O grito de “Olga!” ecoou em Novi Sad

Assim que caiu o último ponto, a comitiva portuguesa explodiu em celebração. “Olga! Olga! Olga!”, gritavam as companheiras de equipa, como se cantassem o refrão de uma música bem conhecida. O treinador João Vítor Gouveia, visivelmente emocionado, resumiu a exibição com um comentário para a atleta que virou assinatura:

Limpinho.”

Foi mesmo. Uma final sem mácula, um torneio sem hesitações. E uma atleta que soube gerir corpo e mente como poucos.

Na meia-final, disputada pela manhã, venceu a norueguesa Laura Krumina, por 11-7, 11-6, 8-11 e 11-5.

Quando a defesa é arte, e a paciência é arma

Chramko representa um tipo de jogadora rara: a que prefere construir a destruir. A sua defesa não é passiva — é agressivamente inteligente. Leva o adversário ao erro com insistência e variação. Não joga contra o adversário — joga com ele.

O jogo sobre a mesa é também uma questão de sobrevivência. Para quem já não tem 20 anos, os deslocamentos largos e os ataques em potência dão lugar à gestão de esforço. E aí, Olga brilha: joga próximo da mesa, com poucos passos e muitas ideias. Assim vence o cansaço. E, assim, vence o jogo.

Madeira em festa, Portugal representado com honra

A medalha fica-lhe muito bem no corpo.
Créditos: Direitos Reservados. Ouro reluz no corpo de Olga.

A vitória da portuguesa tem ainda outro sabor: é uma conquista para o ténis de mesa madeirense, que há décadas forma atletas de valor e espírito competitivo. Mas esta medalha também pertence a Portugal, que se viu representado com qualidade, maturidade e paixão por toda a comitiva presente em Novi Sad.

De Paula Penedo a João Oliveira, de José Alvoeiro a João Gouveia, passando por todos os que suaram sem medalha, esta foi uma campanha memorável para o ténis de mesa veterano português.

Campeã da Europa. E campeã do espírito do desporto

Aos 48 anos, prova que não é a idade que define o atleta, mas sim como encara o jogo. E o seu jogo é feito de entrega, inteligência e respeito.

Num mundo onde se celebra cada vez mais a juventude e a velocidade, Chramko vem lembrar-nos que o desporto também pode ser lento, pensado, profundo e bonito. E que há beleza na precisão, na paciência, na experiência.

Ela é agora campeã da Europa. Mas, mais do que isso, é um exemplo de que o desporto continua vivo — mesmo quando o calendário já não conta os anos com impaciência.

Antes de conquistar o título individual, Chramko e Paula Penedo já haviam brilhado nos pares femininos, garantindo a medalha de bronze na categoria +45.

 O bronze nos pares foi a antecâmara do ouro individual. Uma dupla consagração para a jogadora madeirense. E Portugal está feliz!

Olga Charamko e Paula Penedo em ação no Europeu de Veteranos.
Créditos: Direitos Reservados. Dupla bronzeada em Novi Sad. 


 


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