Oitenta anos do ténis português no Jamor
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: FPT. O mítico Centralito festeja hoje o seu 80.º aniversário. Local de batalhas tenísticas. |
Onde o ténis português criou raízes!
No coração verde do vale do Jamor,
onde as árvores velam em silêncio e o tempo parece escorregar mais devagar,
ergue-se um palco discreto, mas profundamente simbólico para o desporto
nacional. A 10 de junho de 1945, num país chamado Portugal ainda a recuperar do eco da
guerra mundial, inaugurava-se o court central do Complexo Desportivo
do Jamor. Hoje, 80 anos volvidos, o recinto é memória viva de gerações que
empunharam raquetes com o sonho nas mãos.
Um projeto com assinatura de Estado Novo
A construção deste espaço fez parte
de uma visão mais ampla do Estado Novo: dotar o país de infraestruturas
desportivas modernas, num impulso tanto funcional como simbólico. O court
central foi concebido pelo arquiteto Miguel Jacobetty Rosa, figura
maior da arquitetura pública da época e também autor do vizinho Estádio
Nacional.
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Créditos: FPT. O court mais bonito da Europa. |
Estreia com nomes do mundo
Na sua abertura oficial, o court
central foi cenário de três encontros de exibição internacional. Os
franceses Yvon Petra (que venceria Wimbledon no ano seguinte)
e Pierre Pelizza, o espanhol Pedro Massip e o
italiano Francesco Romanoni deram corpo a um momento de
reencontro com a normalidade europeia — e mostraram que Portugal queria, também
através do desporto, afirmar-se no pós-guerra.
Foi uma tarde de promessas. E de
abertura. A terra batida recebia, pela primeira vez, o sopro do ténis
internacional.
Onde o ténis cresce com raízes firmes
Hoje, o Centro de Ténis do Jamor, antigamente apelidados campos de ténis do Estádio Nacional, pulsa com 30 courts, a maioria de terra batida, piso nobre da
escola europeia. Neste chão firme, gerações têm treinado, competido, aprendido.
É um espaço onde o esforço se mistura com o silêncio concentrado, e onde os
sonhos se formam ponto a ponto.
Gerido pela Federação Portuguesa
de Ténis, o centro acolhe desde jovens promessas até atletas de alta
competição. Aqui, o ténis não é só prática — é caminho, é escola, é missão.
O “Centralito” do Estoril Open
Com a chegada do Estoril Open ao
Jamor o court central passou a ser conhecido como “Centralito”,
numa distinção carinhosa face ao court temporário instalado para o torneio ATP.
Em abril de 1990, na véspera do
nascimento do Estoril Open, foi João Lagos quem batizou carinhosamente o court
central do Jamor como “Centralito”. A designação nasceu da necessidade
de distinguir este campo de ténis fixo — com a sua história e alma próprias — do gigante
court temporário, que chegou a acolher até 9 mil espetadores.
Desde então, o “Centralito” tornou-se
mundialmente famoso, palco onde passaram alguns dos maiores campeões do ténis
mundial, numa sucessão de jogos memoráveis durante 25 anos de Estoril Open,
torneio organizado pela JLS — João Lagos Sports. Este nome, mais do que um
apelido, é a expressão da continuidade e da identidade do ténis português,
gravada para sempre na terra batida do Jamor.
Mas quem conhece a história sabe: é
neste espaço permanente, enraizado, que reside a alma do ténis português. Um
court sem adornos, mas pleno de histórias. Um campo que não precisa de luzes
para brilhar.
Património vivo, entre pancadas e silêncios
Assinalar os 80 anos do court
central do Jamor é mais do que celebrar uma data. É reconhecer a
permanência de um lugar onde o ténis encontrou solo fértil para crescer — com
disciplina, com paixão, com futuro.
Neste recinto, o tempo molda-se ao ritmo dos jogos e das estações. É aqui que os ecos do passado encontram o suor do presente. E é daqui que saem, ainda hoje, as próximas páginas da história do ténis português.
O Entrar
no Mundo das Modalidades não poderia deixar de reconhecer a
importância deste acontecimento e celebrar o 80.º aniversário dos campos de
ténis do Jamor com este artigo.
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