Cabral firma talento em relva em Halle

                                                                       Por António Vieira Pacheco

Portuense continua com a mão a ferver, ao lado do austríaco Lucas Miedler.
Créditos: FPT. Pela segunda semana seguida a dupla apura-se para as meias-finais de um ATP 500.

Portuense escreve mais um capítulo da sua ascensão

Pela segunda semana consecutiva, Francisco Cabral voltou a pisar o verde como quem pisa um território conquistado. Depois da meia-final em Estugarda, o tenista portuense, ao lado do austríaco Lucas Miedler, assegurou nova presença no encontro de acesso à final— desta vez no ATP 500 de Halle, na Alemanha, um palco ainda mais prestigiado.

A dupla luso-austríaca confirmou esta sexta-feira o bom momento ao derrotar os franceses Sadio Doumbia e Fabien Reboul, quartos cabeças de série e figuras já bem conhecidas no circuito. O triunfo por 7-6 (3) e 6-2 não só repetiu o desfecho da semana anterior como fortaleceu a certeza de que Cabral e Miedler são, agora, uma parceria de respeito em piso relvado.

Rigor, paciência e execução

A relva, superfície traiçoeira por natureza, exige uma leitura de jogo muito apurada. Não há margem para hesitações. A bola escapa, desliza, perece antes de tempo. E, ainda assim, Cabral e Miedler têm-se mostrado confiantes. Contra Doumbia e Reboul, os detalhes foram determinantes no primeiro ‘set’ — salvaram três break points e deram a volta a um tiebreak que começou com desvantagem.

A resiliência é, afinal, uma das marcas da dupla. Já a solidez mental de Cabral — mesmo nos momentos mais apertados — parece ter atingido um novo patamar. Ao vencer o tiebreak por 7-3, o par impôs um golpe psicológico que condicionou os franceses até ao final do encontro.

No segundo ‘set’, uma demonstração de força

Com o primeiro ‘set’ no bolso, o segundo foi jogado com outra leveza — mas também com determinação estratégica. A quebra de serviço logo no jogo inaugural foi o sinal claro de que a pressão mudara de lado. E, quando veio o segundo break, já não havia dúvidas: Cabral e Miedler estavam num plano superior.

A vitória em dois parciais, com 6-2 no segundo, foi mais do que justa. Foi categórica.

‘Ranking’ e carreira em ascensão

Cabral, 28 anos, volta assim a igualar o melhor resultado da carreira em torneios ATP 500. Mais do que isso: com esta prestação, garante uma subida no ‘ranking’ mundial de pares. Pelo menos até ao 40.º lugar — um novo máximo pessoal —, com margem para melhorar se vencer as meias-finais.

O percurso em Halle começou na fase de qualificação, o que reforça ainda mais o mérito do desempenho. Neste desporto, cada vitória tem de ser conquistada várias vezes: primeiro mentalmente, depois fisicamente, e só depois na estatística.

A próxima paragem é já nas meias-finais, contra os alemães Kevin Krawietz e Tim Puetz, primeiros favoritos ao título. Será um teste duro. Mas também uma oportunidade dourada para Cabral e Miedler escreverem mais uma página inesperada nesta caminhada.

Se o talento se mede pelo que se faz quando ninguém está a ver, talvez o verdadeiro valor desta dupla esteja precisamente na forma como se reinventa semana após semana — sem alarido, sem holofotes, apenas com o peso leve da consistência.

A relva aceita poucos erros — mas reconhece os audazes

No ténis de alto nível, a margem de erro é mínima. E na relva, essa margem encolhe ainda mais. Um ressalto mal calculado, uma passada em falso, uma resposta precipitada, e tudo pode desabar. Francisco Cabral sabe disso. Mas tem mostrado saber também dançar sobre o imprevisto.

Nas entrelinhas deste torneio — e do anterior — lê-se um atleta que atingiu uma maturidade competitiva importante. Está longe dos maiores nomes do circuito? Sim. Mas aproxima-se, com humildade e competência, de um estatuto respeitado.

É um trabalhador do detalhe. E, neste desporto, isso vale muito.

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