China testa caixa de plástico na proteção de raquetes no ténis de mesa

                                                        Por António Vieira Pacheco

Créditos: Ping Pong África. A nova maneira de proteger a raqueta.

O envelope voa e chega a caixa de plástico

No universo acelerado do ténis de mesa, onde o tempo se mede em milésimos e o som da bola ecoa como um metrónomo nervoso, foi uma simples caixa de plástico que ditou o tom de um novo capítulo.

Tudo começou no Qatar, durante o Campeonato Mundial de Ténis de Mesa do corrente ano. A competição fervilhava em talento, velocidade e pressão. Mas entre os jogos, destacou-se um momento de silêncio tenso. O número dois do mundo, o chinês Wang Chuqin, prestes a jogar uma partida de pares mistos contra os brasileiros Hugo Calderano e Bruna Takahashi, o árbitro chamou o juiz árbitro para dizer que a raquete estava irregular.

A borracha estava arranhada e com um rasgão. Havia sinais de desgaste que não estavam lá quando a entregara para verificação técnica. Protestou, mas o juiz árbitro foi inflexível: “Foi assim que a recebemos.” Sem alternativa, Wang teve de usar uma raqueta suplente.

Neste desporto, uma troca destas não é somente logística — é emocional. A raqueta é extensão da mão, reflexo do treino e da sensibilidade. Mudar de raquete no momento decisivo é como solicitar a um violinista para trocar de arco em plena sonata.

Uma resposta silenciosa, mas firme!

Sem alarido, sem comunicados polémicos, a Federação Chinesa de Ténis de Mesa respondeu semanas depois. Na Superliga Chinesa do corrente ano, surgiu uma inovação: uma caixa transparente de plástico rígido, criada para transportar as raquetes dos jogadores do posto de controlo até à mesa de jogo.

A função é prática: evitar arranhões, adulterações ou qualquer suspeita de má conduta. Mas o impacto é simbólico. A China, com este gesto, propôs um novo paradigma: a transparência visível para garantir a integridade desportiva.

O valor de se ver tudo

Tradicionalmente, as raquetas eram transportadas em envelopes castanhos opacos, sem qualquer proteção real. Com a nova caixa, o instrumento é visível o tempo todo. Não há espaço para dúvidas, não há margem para acusações. É um gesto de confiança.

Mais do que proteger madeira e borracha, esta caixa protege a relação entre atleta, árbitro e público. Mostra que, mesmo no detalhe, a honestidade importa.

Poderá tornar-se um novo padrão?

Ainda não se sabe se esta inovação será adotada globalmente. Mas o debate já começou. Nas redes sociais e bastidores da modalidade, muitos perguntam: por que não adotar este padrão em todos os torneios internacionais?

É uma solução simples, eficaz e barata — e talvez por isso tão poderosa. Porque nos lembra que o desporto não vive apenas de pontos, mas de valores.

Esta caixa é mais do que um acessório técnico. É uma metáfora: da clareza, da responsabilidade, do respeito mútuo. Num mundo onde o invisível gera suspeita, a China ofereceu uma resposta tangível, discreta — mas eloquente.

E o leitor? Acredita que esta pequena caixa pode ser uma solução? Ou será somente um gesto simbólico isolado?

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