Paula Penedo revela: “Entusiasmei-me e voltei a sonhar”
Por António Vieira Pacheco
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Créditos: Direitos Reservados. Paula Penedo já está apurada para a fase seguinte do Europeu. |
A arte de sorrir perante a secura do mundo
“Gosto de ludificar a realidade… Dar
uma leve pincelada nas asperezas e amarguras. Lubrifico a engrenagem da vida
com o meu sorriso escancarado sobre a secura humana pungente.” Estas palavras escritas de Paula
Penedo poderiam abrir um livro de poesia ou um diário íntimo na
apresentação do seu perfil na rede social Facebook. Mas, na verdade, são o
reflexo do modo como vive — e compete — uma mulher que carrega nos ombros não
somente uma raquete, mas uma vida cheia de voltas e superações.
Aos 48 anos, atleta veterana, voltou
ao ténis de mesa depois de um hiato de mais de duas décadas. Hoje, representa
novamente Portugal no Campeonato da Europa de Veteranos 2025 W50, na Sérvia,
após ter conquistado uma histórica medalha de bronze, em 2023, na Noruega.
Da montanha ao pavilhão: quando a vida muda o jogo
A história recente de Paula
começa longe das mesas de jogo. Durante anos, o seu palco foi outro: o Trail
Endurance, modalidade exigente onde a resistência e a coragem se cruzam com a
natureza. Mas a vida impôs-lhe uma pausa.
“Tive parada sem competir ténis de
mesa mais de 25 anos e voltei há três anos devido a um problema de saúde
(cancro), que fez com que eu tivesse que parar com a competição de Trail
Endurance por uns tempos”, conta, com a serenidade de quem já enfrentou batalhas maiores do que
qualquer torneio.
A doença trouxe silêncio, mas também
reflexão. E nesse intervalo, a memória do ténis de mesa — guardada em algum
canto da juventude — regressou.
“Lembrei que podia voltar…, mas claro, entusiasmei-me, e comecei gradualmente a voltar a um bom nível. Fico contente por tudo o que conquistei até agora”, afirmou em exclusivo ao Entrar no Mundo das Modalidades.
A medalha que reluz no tempo: bronze na Noruega
Voltar a competir é, por si só, um
feito. Mas Paula foi mais longe: em 2023, conquistou uma medalha de bronze no
Campeonato da Europa da Noruega do seu escalão, um resultado que considera difícil de
repetir, mas que serve como inspiração constante.
“Em comparação com o Europeu da Noruega, a medalha de bronze que ganhei será sempre uma meta difícil de atingir novamente. Mas irei tentar que cada jogo seja uma meta superada e depois, sim, pensar no jogo seguinte.”
Este é o seu lema: superar-se, sem a
pressão da perfeição. Aproveitar o caminho, cada jogo, cada ponto, como se
fosse um fim em si — não apenas um meio para a vitória.
Lisboa, clubes e decisões por tomar
Além das competições internacionais,
Paula vive também os desafios do contexto nacional. Este ano representou a
equipa feminina do Boa Hora Futebol Clube, na 1.ª Divisão. Mas a
temporada não terminou como esperado.
"Este ano estive a jogar na 1.ª Divisão, no Boa Hora, mas acabámos por ser despromovidas. Neste momento, ainda não tenho a minha situação resolvida — para que clube vou jogar ou que projeto vou aceitar."
A incerteza paira, como tantas vezes
acontece no desporto feminino em Portugal, onde as oportunidades são escassas.
"Queria continuar a pertencer a uma equipa feminina, mas na zona de Lisboa há poucos clubes nos campeonatos nacionais."
As palavras são ditas com
simplicidade, sem revolta. Paula sabe que o mundo real nem sempre oferece as
opções que gostaríamos, mas isso não a impede de continuar a sonhar — e a
jogar.
Sérvia 2025: parcerias e aprendizagens
Nesta edição do Campeonato Europeu de
Veteranos, Paula está também a competir em pares com a atleta Olga Charamko,
numa dupla competitiva com experiência acumulada.
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Créditos: Direitos Reservados. |
"Este ano estou a fazer par aqui
na Sérvia com a Olga e penso que poderemos fazer uma boa competição. Estou a
aproveitar e usufruir de toda a experiência que a Olga tem — e a aprender
sempre mais também."
Aqui, como em tudo o que faz, ela transforma a área de jogo numa escola de vida, onde a aprendizagem é constante e a competição é, acima de tudo, um espaço de encontro.
O desporto como expressão de resistência
Mais do que uma atleta, Paula é uma
contadora de histórias silenciosas. Cada vez que entra na área de jogo, não
leva apenas a ambição de vencer, mas a vontade de usufruir da experiência, de
rir quando se perde, e de dar significado a cada ponto.
“As ambições são sempre tentar superar-me a mim própria, mas principalmente usufruir do campeonato e ter bons jogos com bom nível competitivo…”
É essa abordagem — sem rigidez, mas
com profundidade — que transforma a sua presença em algo mais do que uma
estatística desportiva. Paula representa a beleza da resiliência, a doçura de
quem já perdeu muito e, ainda assim, não perdeu a capacidade de sorrir,
competir e amar o que faz.
O bronze que vale ouro
A medalha da Noruega é de bronze, mas
tem o brilho do ouro da superação. É uma peça de metal, sim — mas que carrega
dentro de si a história de uma mulher que desafiou o tempo, a doença, o medo e
a dúvida.
Aos 48 anos, Paula não joga apenas por vitórias. Joga por amor, por liberdade, por todas as versões de si mesma que se reencontraram com a raquete na mão. Cada jogo é um poema que escreve com o corpo. Cada ‘set’, uma página virada com firmeza.
Continuar a jogar… com um sorriso escancarado
Ela não sabe onde vai jogar na
próxima época. Não sabe se voltará a subir ao pódio. Mas sabe — e isso é o mais
importante — que está onde deve estar. No meio da competição, da amizade, da
superação pessoal. A viver o desporto como um modo de ser. A sorrir diante da
secura pungente da vida.
Acompanhe mais histórias de atletas
veteranos portugueses no Europeu 2025 no Entrar do Mundo das Modalidades.
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