Monte Aventino: Silêncio sobre o vale das Antas, no Porto

                                                                                 Por António Vieira Pacheco
Em 2017, o protocolo do Complexo de Ténis do Monte Aventino entre a FPT e a CMP foi assinado.
Créditos: Direitos Reservados. Em 2017, foi assinado o contrato para FPT explorar o Monte Aventino.

Uma promessa no alto da cidade

O Monte Aventino ergue-se sobre a paisagem do Porto como um terraço de intenções. Ali, onde a cidade respira fundo e o céu parece mais perto, nasceu um sonho de desporto e excelência. Em 1997, a inauguração do complexo desportivo de ténis trouxe ao norte o brilho efémero de nomes cintilantes: Sofia Prazeres, Anna Kournikova, Yannick Noah, Mansour Bahrami. A promessa estava lançada — o ténis teria casa própria, visível e viva.

Vinte anos mais tarde, em 2017, um novo capítulo: a Câmara Municipal do Porto confiou à Federação Portuguesa de Ténis (FPT) a gestão do espaço por duas décadas. Era o início de um projeto ambicioso, tecido com palavras firmes e intenções nobres. Um desses compromissos, repetido com ênfase, era a criação de um Centro de Formação e Alto Rendimento. Um lugar onde o futuro se treinaria diariamente.

Oito anos depois, o eco

Chegados a 2025, oito anos volvidos desde a entrega formal, o que o Monte Aventino devolve é o som do eco. O centro de rendimento permanece nos papéis, quieto, intocado. As infraestruturas existem — sete campos ao ar livre, três cobertos, balneários modernos, salas de apoio. O corpo do espaço está ali. Falta-lhe a alma.

Não há rotina visível de formação contínua. Nem há equipas técnicas permanentes, nem jovens talentos em residência. Falta o movimento que transforma edifícios em escolas. Falta o treino que repete gestos até que nasça um campeão. O Monte, assim, é bonito e limpo, mas vazio de missão.

Entre gestos e ausências

A gestão da Federação Portuguesa de Ténis (FPT) melhorou o espaço: cuidou dos recantos, organizou acessos, abriu portas. Quem ali passa encontra qualidade, tranquilidade, e uma certa ordem. Mas falta-lhe vibração. Falta-lhe o som das raquetes ao amanhecer. Falta-lhe o cansaço feliz de quem treina para alcançar o impossível.

O compromisso maior — esse centro que formaria, elevaria, acolheria — permanece suspenso. E com ele, suspensa está também a confiança de quem acreditou.

Rui Moreira, presidente da Câmara que assinou a concessão, prepara-se agora para o fim do seu último mandato. Olha para trás e, no que ao ténis diz respeito, deixa apenas uma frase misteriosa: “É a modalidade onde o Porto tem mais atletas federados.” É uma constatação neutra, talvez resignada. Uma espécie de ponto final sem verbo.

Vasco Costa, presidente da FPT na altura, e atual Secretário Geral, mantém-se ao leme. Firme, seguro, mas pouco permeável à crítica. A quem o questiona, responde com desconforto. Não gosta de ruído nem de confronto. Mas a ausência de resposta também é forma de dizer. E o que se não diz, também pesa.

Uma casa com janelas fechadas

O Monte Aventino é belo. Alto. Sereno. Mas parece mais uma casa de fim de semana do que um centro de atividade. Não há ali o fulgor de um lugar que forma. E não se pressente vocação pedagógica, nem urgência desportiva. É um espaço que respira calma, mas não respira ambição.

E talvez por isso, pese. Pese como pesam as promessas que ainda não foram cumpridas. Como pesam as ideias que não chegam a gesto. Como pesa o tempo quando passa sem deixar obra.

A cidade e o ténis: encontros que se desencontram

O Porto, cidade de cultura, de mar e dos monumentos, também é uma cidade de desporto. Mas o ténis, mesmo com tantos praticantes federados, continua a viver numa espécie de marginalidade elegante. Nunca é a estrela. Jamais é o problema. Mas é raramente o centro da conversa.

A concessão do Monte Aventino podia ter mudado isso. Podia ter sido símbolo de um novo olhar. Mas para isso, era preciso mais do que manutenção. Era preciso visão. Era preciso investimento humano, estrutura, programação, metas. E era preciso, acima de tudo, vontade de cumprir o que se prometeu.

Um campo sem colheita

O Monte tem o que é preciso para ser fértil. Mas não frutifica. Há ali a terra, a água, a luz. Mas falta a semente. Ou falta quem a plante. Talvez se espere. E talvez se adie. Mas o tempo, esse, não espera.

E com cada ano que passa, a distância entre o que se disse e o que se fez cresce. O centro de alto rendimento não aparece. E ninguém mais parece perguntar por ele. Como se o silêncio tivesse, aos poucos, substituído a exigência.

A montanha que ficou colina

A metáfora é quase inevitável: o Monte Aventino que prometia ser montanha, é hoje colina tranquila. Sobe-se até lá, respira-se fundo, e volta-se para casa. Há beleza, sem dúvida. Mas a beleza, por si só, não basta.

Porque o desporto — e o ténis em particular — não vive apenas de instalações. Vive de movimento. De formação. E de pessoas. De objetivos. Vive de compromisso com o futuro.

Oito anos já lá vão. Faltam doze, se o contrato for até ao fim. Tempo há. Mas o tempo, como a bola no jogo, não retrocede. Cada ponto conta. Cada falha custa. E cada ano que passa sem o centro de formação é um ano que não volta.

O Monte Aventino continua lá, junto ao Estádio do Dragão. À espera de ser mais do que cenário. À espera de que a história que se prometeu comece finalmente a ser escrita.

Enquanto isso, a cidade olha. E quem sabe sonha.

Nota editorial

Este texto é uma crónica de opinião. A sua intenção é refletir, de forma subjetiva e interpretativa, sobre a evolução e o impacto simbólico do Complexo Desportivo do Monte Aventino na cidade do Porto. Qualquer referência a entidades ou figuras públicas baseia-se em informações disponíveis publicamente e em perceções narrativas. Não constitui acusação, juízo de valor ou imputação legal a qualquer pessoa, ou organização.


 

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